quarta-feira, 16 de maio de 2012

A evolução do antigo Vale-Tudo, atual MMA. Conheça um pouco da história de uma das modalidades esportivas que mais cresce no mundo.

Em outra época considerada como uma rinha humana, as lutas de MMA hoje em dia têm uma grande aceitação por parte da população mundial. Com a divulgação nos meios comunicativos de massa, os combates nos dias atuais são bastante assistidos no mundo todo. No Brasil virou febre, e no Ceará não é diferente. Mais preconceitos contra a modalidade ainda existem. 

Uma forma de luta que antigamente era considerada selvagem, hoje em dia um dos esportes que mais cresce no mundo, o MMA a cada dia que passa vai conquistando mais praticantes e fãs pelo mundo a fora. No Brasil não poderia ser diferente. Aqui foi onde nasceu esse esporte, que antigamente era conhecido como o Vale Tudo, onde se era praticamente isento de regras, onde quase realmente se valia de tudo para vencer.

Com o passar do tempo, com a profissionalização da luta, com a pratica em outros países, o Vale Tudo passou a ser chamar MMA (Mix Martials Arts em inglês), ou simplesmente mistura de artes marciais. Foi criada uma série de regras, que podem variar de evento para evento. Também foi criada uma organização que monitora o esporte, nos EUA, país que tem a maior competição do mundo, que é o UFC.

No começo do século XX, por volta dos anos 14, o jiu-jítsu tradicional foi apresentado para a família Gracie, que viria a se tornar a maior família de lutadores do Brasil O japonês Mitsuyo Maeda, que era conhecido como Conde Koma foi o responsável por esse intermédio. Maeda tinha chegado ao Brasil junto com uma colônia de imigrantes japoneses. Desembarcou no Pará, onde conheceu o empresário Gastão Gracie, que ajudou o oriental a se estabelecer na cidade. Como gratidão, o japonês decidiu ensinar o jiu-jítsu ao filho mais velho de Gastão, Carlos, que com o passar do tempo, resolveu passar o que tinha aprendido para seus irmãos. 

Mais que realmente se deu bem com aquilo foi Hélio, o filho mais novo de Gastão, que aperfeiçôo aquela arte de luta suave e criou o Jiu-Jítsu brasileiro, ou Brazilian Jiu-Jítsu como é conhecida no mundo a fora, ou simplesmente BJJ.

Virou uma hierarquia. Todos os membros na família Gracie tinham que aprender o Jiu-Jítsu, e ganharam fama no Brasil após vários desafios de combates contra lutadores de outras artes marciais. Os Gracies se destacavam por conseguir derrotar lutadores com portes físicos muito mais avantajados em pouco tempo de peleja. Era algo impressionante para aquelas primeira décadas do século passado. Rolls Gracie, filho de Carlos teve um grande destaque na década de 70 na imprensa na época. Em 1976 ele e outros praticantes do Jiu-Jítsu brasileiro fizeram uma apresentação na TV Tupi. Dias depois um professor de Caratê foi ao mesmo programa, questionou a eficácia do Brazilian Jiu-Jítsu e propôs um desafio alegando que seria fácil ganhar de todos eles. O desafio foi aceitou de forma imediata e foi organizado um evento de lutas casadas entre os jiu-jiteiros contra os caratecas. Todos os que estavam representando o jiu-jítsu venceram, e o combate principal da noite ficou por conta de Rolls que encarou o mestre de caratê que propôs o desafio. O Gracie venceu o combate com muita facilidade.

Lutas de vale-tudo naquele tempo aconteciam de forma aleatória, não se existia um uma competição de renome e as regras eram das mais variadas formas possíveis. Mais isso mudou no inicio dos anos 90. Em 1993, o brasileiro Rorion, também membro da família Gracie criou o Ultimate Fighting Championship(UFC), torneio entre lutadores de diversas artes marciais onde as regras eram quase inexistentes. Junto com o UFC, ele também criou o Octógono, local onde as lutas ao invés de serem disputadas em um ringue tradicional, passaram a acontecer em um tablado gradeando de oito lados. 


O sucesso nos Estados Unidos foi imediato, a venda de Pay-per-view(sistema pago de uma programação específica na TV a cabo) foi bastante alta. O brasileiro Royce Gracie foi o grande destaque das primeiras edições, vencendo a edição de número 1,2 e 4 e assim mostrando a superioridade do jiu-jítsu diante de outras modalidades de luta. Na época o evento era em forma de torneio, e para se sagrar campeão o lutador tinha que lutar três vezes em uma única noite. Royce chegou a lutar quatro vezes na edição de numero 2. Mais com o passar do tempo, lutadores foram enxergando a necessidade de ser aperfeiçoar e passaram a treinar paralelamente outro tipo de arte marcial, além da sua de origem. Umas se mostraram mais eficientes e se encaixaram melhor dentro dessa forma de disputa, outras nem tanto. As principais que se mantém até hoje em dia na lista de treinos dos atletas são: o Jiu-Jítsu, Muay-Thai, Boxe, Kickboxing, Luta olímpica, Luta livre, e ate mesmo o Caratê. O precursor dessa forma de treino misto foi o brasileiro Marco Ruas, que foi o vencedor da edição 7 do UFC, que foi realizada no ano de 1995. Ruas mostrou seu potencial tanto na luta em pé como na luta de solo.

A profissionalização do vale tudo era necessária para a sobrevivência do esporte. Apesar de ter uma boa audiência, o UFC chegou a ser proibido em vários estados americanos por conta da agressividade que continha nas pelejas. Para uma melhor aceitação, primeiro teria que ser criado regras que tornasse o esporte menos violento, e teria que ser extinto a nomenclatura Vale Tudo (não há regras). Foi ai que foi inserido o nome MMA (Mix Martials Arts), a famosa mistura de artes marciais.

Paralelo ao UFC, outro grande evento foi criado no Japão, o Pride. Por anos o show japonês foi considerado o maior e mais popular do MMA, inclusive importando grandes nomes do UFC para o seu ringue (no Pride, diferentemente do UFC, as lutas eram realizadas em um ringue tradicional, com cordas e quatro lados). Marcos Ruas, Vitor Belfort, Mark Coleman e Oleg Taktarov são apenas alguns de nomes de sucesso do UFC que migraram para o evento nipônico. No Japão foi onde grandes nomes do MMA brasileiro tiveram grande sucesso como Rodrigo Minotauro, Wanderlei Silva, Anderson Silva, Mauricio Shogum dentre outros.

No pacote de profissionalização do MMA também estava contido a eliminação dos eventos em forma de torneios e a criação de categorias, fazendo com que assim lutadores só pelejassem uma vez por evento e com adversários com um peso igual ou parecido. Assim como no boxe, o UFC criou diversas categorias e seus respectivos cinturões para os campeões.

No inicio dos anos 2000, o UFC foi vendido para os irmãos Fertittas e o promotor de boxe Dana White. O valor da venda foi irrisório em relação o que vale nos dias atuais. Com a profissionalização, o evento conseguiu ser aceito em vários estados americanos e conseqüentemente realizado em lugares famosos dos Estados Unidos, como o Cassino Trump Taj Mahal e a MGM Grand Arena, e além do mais, a venda dos pay-per-views voltaram a crescer. Isso foi o início do alavancamento da organização.

O grande auge da maior organização de MMA do mundo, o UFC, foi atingido após a compra do PRIDE. Dana White e os irmãos Ferttitas compraram o evento japonês em 2007. Na época a organização japonesa estava em franca decadência. Após romper com uma das maiores emissoras de TV do Japão, o Pride perdeu suas forças e seus principais patrocinadores. Alguns tablóides japoneses alegaram na época que o motivo do rompimento do evento com a TV teria sido pelo envolvimento de organizadores com a Yakuza, famosa máfia japonesa. Após a compra, os americanos extinguiram o evento, fazendo com que assim grandes nomes da organização migrassem para solo da terra do Tio Sam.

Depois disso o UFC chegou ao topo, sendo realizado em vários países, batendo recordes de vendas na televisão paga, conseguindo também espaço na TV aberta. Também foi criado um reality show de lutadores, o TUF (The Ultimate Fighter) que confinavam vários lutadores desconhecidos em uma casa, que se enfrentariam de forma eliminatória ate chegar a uma final. O vencedor ganharia um contrato com a organização. O TUF foi muito importante para a popularização do MMA nos EUA, pois o reality era transmitido em TV aberta.

Em solo nacional, grande eventos de MMA já foram realizados e grandes rivalidades entre equipes já foram travadas dentro deles. Eventos como o IVC, Meca Word Vale Tudo e Jungle Fight já fizeram alegria de milhares de fãs das artes marciais mistas no Brasi. A cidade de Curitiba e do Rio de Janeiro se destacam como os maiores celeiros do MMA nacional. No rio era a casa da BTT (Brazilian Top Tem), equipe onde grandes nomes como Rodrigo Minotauro, Rogério Minotouro, Murilo Bustamante, Vitor Belfort já treinaram. Já em Curitiba era onde se sediava a Chute Boxe, que tinha nomes de forte calibre das lutas, como Wanderlei Silva, Anderson Silva, Murilo Ninja, Mauricio Shogum, Pelé Landim dentre outros. Competições nacionais que casava lutas entre atletas dessas duas equipes eram garantia de sucesso e muita rivalidade nos eventos.

O Ceará também é celeiro de bons lutadores de MMA. Do estado já saíram atletas para várias organizações de MMA no mundo, inclusive o UFC. Nomes como Thiago “Pit Bull” Alves, Hermes França, Wilson Gouvêa, Willamy Chiquerim, Paulo Guerreiro e muitos outros. Atualmente, os lutadores cearenses mais comentados na mídia em geral, são eles, Godofredo Pepey e Rony Jason. Eles participam atualmente da edição nacional do TUF Brasil, que estar sendo transmitida pela Rede Globo de televisão. 

Com o espaço na TV aberta brasileira, o MMA hoje em dia é um dos esportes mais falados da atualidade. Nas redes sociais, quando se aproxima algum evento de lutas, se torna um dos assuntos mais comentados. Com toda essa repercussão que o esporte vai adquirindo, ele se torna bastante mais ainda existe muito preconceito com relação aos combates.

Para Daniel Pinto, 24 anos, estudante de direito, e muito positivo todo esse crescimento do MMA no Brasil:“Todo esporte, seja ele de qual natureza for, é importante para o desenvolvimento pessoal e social. Aquela questão de ir contra a marginalização da população e etc. Sem contar que é muito bom a popularização pra quem gosta desse esporte e pra quem vive disso passa a se tornar bastante rentável”

As lutas mistas refletem de forma positiva pra muitos jovens, assim deixou transparecer a estudante de jornalismo, Larissa Falcão, de 20 anos: “Eu acho o crescimento do MMA positivo. Agora tá uma febre, mas é bom para o esporte. Mais que glamour, o MMA é esporte. É um esporte como os outros. É uma ferramenta de entretenimento e traz lucros. Que aqui no Brasil ele seja um agente de mudança social, positivo.”

Mais nem todos enxergam o esporte de uma maneira atraente. A estudante de publicidade e propaganda Cristina Torres, de 22 anos, ostentou uma opinião bem negativa sobre as pelejas: “Eu não gosto, porque acho um esporte de pratica muito violenta, e acho também que tem pessoas que assistem e levam pro lado da maldade, usam pra sair violentando outros por ai.”


Já para o comunicador social Romenik Queiroz, de 25 anos, é preciso fiscalizar a prática de lutas marciais, para manter a integridade física do competidor:É uma modalidade esportiva que vem crescendo devido a publicização dos meios de comunicação de massa ultimamente. No entanto, não deixa de lado os riscos para os seus praticantes quando não tem fiscalização de associações e comitês. Devemos deixar claro que um profissional desta modalidade precisa de acompanhamento nutricional, psicológico, fisioterapêutico e com educadores físicos. Não podemos esquecer que o despreparo e o desrespeito às limitações e a negligência pode causar acidentes graves e transformar a euforia positiva que a gente vem presenciando em bode expiatório. Neste caso, os verdadeiros profissionais é que paga o preço mais caro.”

Reportagem: Rômulo Jacobi

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