Uma forma de
luta que antigamente era considerada selvagem, hoje em dia um dos esportes que
mais cresce no mundo, o MMA a cada dia que passa vai conquistando mais
praticantes e fãs pelo mundo a fora. No Brasil não poderia ser diferente. Aqui foi
onde nasceu esse esporte, que antigamente era conhecido como o Vale Tudo, onde
se era praticamente isento de regras, onde quase realmente se valia de tudo
para vencer.
Com o passar
do tempo, com a profissionalização da luta, com a pratica em outros países, o
Vale Tudo passou a ser chamar MMA (Mix Martials Arts em inglês), ou simplesmente
mistura de artes marciais. Foi criada uma série de regras, que podem variar de
evento para evento. Também foi criada uma organização que monitora o esporte,
nos EUA, país que tem a maior competição do mundo, que é o UFC.
No começo do
século XX, por volta dos anos 14, o jiu-jítsu tradicional foi apresentado para
a família Gracie, que viria a se tornar a maior família de lutadores do Brasil
O japonês Mitsuyo Maeda, que era conhecido como Conde
Koma foi o responsável por esse intermédio. Maeda tinha chegado ao Brasil junto
com uma colônia de imigrantes japoneses. Desembarcou no Pará, onde conheceu o empresário
Gastão Gracie, que ajudou o oriental a se estabelecer na cidade. Como gratidão,
o japonês decidiu ensinar o jiu-jítsu ao filho mais velho de Gastão, Carlos,
que com o passar do tempo, resolveu passar o que tinha aprendido para seus
irmãos.
Mais que realmente se deu bem com aquilo
foi Hélio, o filho mais novo de Gastão, que aperfeiçôo aquela arte de luta
suave e criou o Jiu-Jítsu brasileiro, ou Brazilian Jiu-Jítsu como é conhecida
no mundo a fora, ou simplesmente BJJ.
Virou uma hierarquia. Todos os membros
na família Gracie tinham que aprender o Jiu-Jítsu, e ganharam fama no Brasil
após vários desafios de combates contra lutadores de outras artes marciais. Os
Gracies se destacavam por conseguir derrotar lutadores com portes físicos muito
mais avantajados em pouco tempo de peleja. Era algo impressionante para aquelas
primeira décadas do século passado. Rolls Gracie, filho de Carlos teve um
grande destaque na década de 70 na imprensa na época. Em 1976 ele e outros
praticantes do Jiu-Jítsu brasileiro fizeram uma apresentação na TV Tupi. Dias
depois um professor de Caratê foi ao mesmo programa, questionou a eficácia do
Brazilian Jiu-Jítsu e propôs um desafio alegando que seria fácil ganhar de
todos eles. O desafio foi aceitou de forma imediata e foi organizado um evento
de lutas casadas entre os jiu-jiteiros contra os caratecas. Todos os que
estavam representando o jiu-jítsu venceram, e o combate principal da noite
ficou por conta de Rolls que encarou o mestre de caratê que propôs o desafio. O
Gracie venceu o combate com muita facilidade.
Lutas de vale-tudo naquele tempo
aconteciam de forma aleatória, não se existia um uma competição de renome e as
regras eram das mais variadas formas possíveis. Mais isso mudou no inicio dos
anos 90. Em 1993, o brasileiro Rorion, também membro da família Gracie criou o
Ultimate Fighting Championship(UFC), torneio entre lutadores de diversas artes
marciais onde as regras eram quase inexistentes. Junto com o UFC, ele também
criou o Octógono, local onde as lutas ao invés de serem disputadas em um ringue
tradicional, passaram a acontecer em um tablado gradeando de oito lados.
O sucesso nos Estados Unidos foi imediato, a venda de Pay-per-view(sistema pago de uma programação específica na TV a cabo) foi bastante alta. O brasileiro Royce Gracie foi o grande destaque das primeiras edições, vencendo a edição de número 1,2 e 4 e assim mostrando a superioridade do jiu-jítsu diante de outras modalidades de luta. Na época o evento era em forma de torneio, e para se sagrar campeão o lutador tinha que lutar três vezes em uma única noite. Royce chegou a lutar quatro vezes na edição de numero 2. Mais com o passar do tempo, lutadores foram enxergando a necessidade de ser aperfeiçoar e passaram a treinar paralelamente outro tipo de arte marcial, além da sua de origem. Umas se mostraram mais eficientes e se encaixaram melhor dentro dessa forma de disputa, outras nem tanto. As principais que se mantém até hoje em dia na lista de treinos dos atletas são: o Jiu-Jítsu, Muay-Thai, Boxe, Kickboxing, Luta olímpica, Luta livre, e ate mesmo o Caratê. O precursor dessa forma de treino misto foi o brasileiro Marco Ruas, que foi o vencedor da edição 7 do UFC, que foi realizada no ano de 1995. Ruas mostrou seu potencial tanto na luta em pé como na luta de solo.
A profissionalização do vale tudo era
necessária para a sobrevivência do esporte. Apesar de ter uma boa audiência, o
UFC chegou a ser proibido em vários estados americanos por conta da
agressividade que continha nas pelejas. Para uma melhor aceitação, primeiro
teria que ser criado regras que tornasse o esporte menos violento, e teria que
ser extinto a nomenclatura Vale Tudo (não há regras). Foi ai que foi inserido o
nome MMA (Mix Martials Arts), a famosa mistura de artes marciais.
Paralelo ao UFC, outro grande evento foi
criado no Japão, o Pride. Por anos o show japonês foi considerado o maior e
mais popular do MMA, inclusive importando grandes nomes do UFC para o seu ringue
(no Pride, diferentemente do UFC, as lutas eram realizadas em um ringue
tradicional, com cordas e quatro lados). Marcos Ruas, Vitor Belfort, Mark
Coleman e Oleg Taktarov são apenas alguns de nomes de sucesso do UFC que
migraram para o evento nipônico. No Japão foi onde grandes nomes do MMA
brasileiro tiveram grande sucesso como Rodrigo Minotauro, Wanderlei Silva,
Anderson Silva, Mauricio Shogum dentre outros.
No pacote de profissionalização do MMA
também estava contido a eliminação dos eventos em forma de torneios e a criação
de categorias, fazendo com que assim lutadores só pelejassem uma vez por evento
e com adversários com um peso igual ou parecido. Assim como no boxe, o UFC
criou diversas categorias e seus respectivos cinturões para os campeões.
No inicio dos anos 2000, o UFC foi
vendido para os irmãos Fertittas e o promotor de boxe Dana White. O valor da
venda foi irrisório em relação o que vale nos dias atuais. Com a
profissionalização, o evento conseguiu ser aceito em vários estados americanos
e conseqüentemente realizado em lugares famosos dos Estados Unidos, como o
Cassino Trump Taj Mahal e a MGM Grand Arena, e além do mais, a venda dos
pay-per-views voltaram a crescer. Isso foi o início do alavancamento da
organização.
O grande auge da maior organização de
MMA do mundo, o UFC, foi atingido após a compra do PRIDE. Dana White e os
irmãos Ferttitas compraram o evento japonês em 2007. Na época a organização
japonesa estava em franca decadência. Após romper com uma das maiores emissoras
de TV do Japão, o Pride perdeu suas forças e seus principais patrocinadores.
Alguns tablóides japoneses alegaram na época que o motivo do rompimento do
evento com a TV teria sido pelo envolvimento de organizadores com a Yakuza,
famosa máfia japonesa. Após a compra, os americanos extinguiram o evento,
fazendo com que assim grandes nomes da organização migrassem para solo da terra
do Tio Sam.
Depois disso o UFC chegou ao topo, sendo
realizado em vários países, batendo recordes de vendas na televisão paga,
conseguindo também espaço na TV aberta. Também foi criado um reality show de
lutadores, o TUF (The Ultimate Fighter) que confinavam vários lutadores desconhecidos
em uma casa, que se enfrentariam de forma eliminatória ate chegar a uma final. O
vencedor ganharia um contrato com a organização. O TUF foi muito importante
para a popularização do MMA nos EUA, pois o reality era transmitido em TV
aberta.
Em solo nacional, grande eventos de MMA
já foram realizados e grandes rivalidades entre equipes já foram travadas
dentro deles. Eventos como o IVC, Meca Word Vale Tudo e Jungle Fight já fizeram
alegria de milhares de fãs das artes marciais mistas no Brasi. A cidade de
Curitiba e do Rio de Janeiro se destacam como os maiores celeiros do MMA
nacional. No rio era a casa da BTT (Brazilian Top Tem), equipe onde grandes
nomes como Rodrigo Minotauro, Rogério Minotouro, Murilo Bustamante, Vitor Belfort
já treinaram. Já em Curitiba era onde se sediava a Chute Boxe, que tinha nomes
de forte calibre das lutas, como Wanderlei Silva, Anderson Silva, Murilo Ninja,
Mauricio Shogum, Pelé Landim dentre outros. Competições nacionais que casava
lutas entre atletas dessas duas equipes eram garantia de sucesso e muita
rivalidade nos eventos.
O Ceará também é celeiro de bons
lutadores de MMA. Do estado já saíram atletas para várias organizações de MMA
no mundo, inclusive o UFC. Nomes como Thiago “Pit Bull” Alves, Hermes França,
Wilson Gouvêa, Willamy Chiquerim, Paulo Guerreiro e muitos outros. Atualmente,
os lutadores cearenses mais comentados na mídia em geral, são eles, Godofredo
Pepey e Rony Jason. Eles participam atualmente da edição nacional do TUF
Brasil, que estar sendo transmitida pela Rede Globo de televisão.
Com o espaço na TV aberta brasileira, o
MMA hoje em dia é um dos esportes mais falados da atualidade. Nas redes
sociais, quando se aproxima algum evento de lutas, se torna um dos assuntos
mais comentados. Com toda essa repercussão que o esporte vai adquirindo, ele se
torna bastante mais ainda existe muito preconceito com relação aos combates.
Para Daniel Pinto, 24 anos, estudante de
direito, e muito positivo todo esse crescimento do MMA no Brasil:“Todo esporte, seja ele de qual natureza
for, é importante para o desenvolvimento pessoal e social. Aquela questão de ir
contra a marginalização da população e etc. Sem contar que é muito bom a
popularização pra quem gosta desse esporte e pra quem vive disso passa a se
tornar bastante rentável”
As lutas mistas refletem de forma
positiva pra muitos jovens, assim deixou transparecer a estudante de
jornalismo, Larissa Falcão, de 20 anos: “Eu acho o crescimento do MMA positivo.
Agora tá uma febre, mas é bom para o esporte. Mais que glamour, o MMA é esporte.
É um esporte como os outros. É uma ferramenta de entretenimento e traz lucros.
Que aqui no Brasil ele seja um agente de mudança social, positivo.”
Mais nem todos enxergam o esporte de uma
maneira atraente. A estudante de publicidade e propaganda Cristina Torres, de
22 anos, ostentou uma opinião bem negativa sobre as pelejas: “Eu não gosto, porque acho um esporte de
pratica muito violenta, e acho também que tem pessoas que assistem e levam pro
lado da maldade, usam pra sair violentando outros por ai.”
Já para o comunicador social Romenik Queiroz, de 25 anos, é preciso fiscalizar a prática de lutas marciais, para manter a integridade física do competidor:“É uma modalidade esportiva que vem crescendo devido a publicização dos meios de comunicação de massa ultimamente. No entanto, não deixa de lado os riscos para os seus praticantes quando não tem fiscalização de associações e comitês. Devemos deixar claro que um profissional desta modalidade precisa de acompanhamento nutricional, psicológico, fisioterapêutico e com educadores físicos. Não podemos esquecer que o despreparo e o desrespeito às limitações e a negligência pode causar acidentes graves e transformar a euforia positiva que a gente vem presenciando em bode expiatório. Neste caso, os verdadeiros profissionais é que paga o preço mais caro.”
Reportagem: Rômulo Jacobi
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